Por motivos como esses, o ensino brasileiro fica atrás de nações como Colômbia, Bolívia e Paraguai.
O estudo atribuiu nota de 0 a 1 aos 128 países analisados levando em conta o percentual de crianças entre 6 e 15 anos matriculadas na escola, o índice de analfabetismo, a igualdade de acesso entre meninos e meninas e a qualidade, que é avaliada pela comparação entre o número de crianças que entram na 1ª série e o número de crianças que concluem a 5ª série. Nos primeiros três quesitos o Brasil obteve notas satisfatórias. Mas no critério qualidade obteve nota 0,756, atribuída a países de baixo desenvolvimento, o que diminuiu a nota final do país.
O professor da UnB Erasto Mendonça explica que as causas para a posição do Brasil no ranking são complexas e históricas. Mas aponta como um dos motivos o rápido crescimento do número de vagas ofertadas, fato que não aconteceu da mesma forma em outros países da América Latina. “A ampliação da oferta aconteceu mantendo a qualidade que já existia, sem melhorias na estrutura das escolas ou na qualificação dos professores”, afirma.
Segundo Mendonça, esse rápido crescimento na oferta é reflexo de uma preocupação recente com a universalização do ensino. “Nos últimos 20 anos é que tem havido uma reversão no quadro de descaso com a educação no país”, justifica. O que falta agora, segundo Mendonça, é que o crescimento do número de vagas seja acompanhado pelo aumento da qualidade.
Para que isso aconteça, a diretora da Faculdade de Educação (FE) Inês de Almeida acredita que o Brasil precisa contornar as dificuldades decorrentes de sua grande extensão. “Não justifica, mas é claro que em um país com dimensões continentais os investimentos necessários são muito maiores e o esforço para distribuí-los também”, diz. Essa dificuldade se reflete na estrutura das escolas e na formação dos professores.
EVASÃO – A evasão escolar entre o 1º e o 5º anos foi o principal motivo para a má colocação do Brasil no ranking. Segundo a professora da Faculdade de Educação (FE) Maria de Fátima Guerra, existem duas causas principais para a evasão nessa faixa etária. A primeira é a falta de preparo com que essas crianças chegam à 1ª série. Guerra explica que no Brasil ainda não se dá a devida importância à educação infantil, que vai até os seis anos de idade, e isso prejudica o aprendizado futuro dos alunos. “Pela lei, somente o ensino básico, do 1º ao 9º ano, é obrigatório”, esclarece.
A segunda é a falta de sensibilidade e de condições dos professores para entender as particularidades de aprendizado de cada aluno. “Na sala de aula existe uma diversidade grande de estudantes, que nem sempre os professores conseguem perceber. Não adianta querer aplicar a mesma metodologia de ensino para todos”, diz. Esses dois fatores podem prejudicar o aprendizado. Desestimulados por não conseguir aprender como deveriam, muitos alunos largam a escola nesse período. A professora diz que o professor precisa saber trabalhar com a bagagem cultural que o aluno traz de casa.
Os especialistas afirmam, porém, que mudanças já estão acontecendo, mas que vão demorar para surtirem efeito. “Quando se trata de educação, a gente colhe o que a geração passada plantou”, conta o professor Erasto Mendonça. Segundo eles, políticas públicas foram lançadas recentemente para tentar reverter esse quadro. Como exemplo, a diretora da FE Inês de Almeida cita o programa Mais Educação, que aumenta de 4h para 6h o tempo que as crianças passam na escola. Já Mendonça cita o fim da desvinculação do orçamento da Educação, que deve liberar cerca de R$ 10 bilhões até 2011, e a Conferência Nacional de Educação, que acontecerá em março de 2010 e estabelecerá metas para o Plano Nacional de Educação.
O caminho a percorrer, entretanto, ainda é longo. A professora Maria de Fátima Guerra afirma que as mudanças só vão ocorrer quando o país aprender a valorizar a educação na prática. “Em termos de políticas públicas e de legislação já caminhamos muito. Precisamos agora colocar em prática”, conclui.
UnB Agência
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