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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Educação: da quantidade à qualidade

Artigo de Frei Betto comenta a atual situação da Educação brasileira e seus desafios

* FREI BETTO

A presidente Dilma promete priorizar a Educação. No Brasil, apenas 10% da população concluíram o ensino superior; 23% o médio, e 36% não terminaram o fundamental. O ministro Fernando Haddad se compromete a adotar tempo integral no ensino médio, combinando atividades curriculares com aprendizado profissionalizante. São promessas às quais se soma a de aplicar 7% do Produto Interno Bruto (PIB) na Educação (hoje, apenas 5,2%, cerca de R$ 70 bilhões).

O governo Lula avançou muito na área: criou 14 universidades públicas e mais de 130 expansões universitárias; a Universidade Aberta do Brasil (ensino a distância), cuja qualidade é discutível; construiu mais de 100 câmpus universitários pelo interior do país; criou e/ou ampliou Escolas técnicas e institutos federais e, por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), possibilitou a mais de 700 mil jovens o acesso ao ensino superior.

Outro avanço é a universalização do ensino fundamental, no qual se encontram matriculados 98% dos brasileiros de 7 a 14 anos. Porém, quantidade não significa qualidade. Ainda há muito a fazer. Estão fora da Escola 15% dos jovens entre 15 e 17 anos. Ao desinteresse, principal motivo, alinham-se a premência de trabalhar e a dificuldade de acesso à Escola.
Tomara que a proposta de tempo integral do ministro Haddad se torne realidade.

Nos países desenvolvidos os alunos permanecem na Escola, em média, oito horas por dia. No Brasil, quatro horas e meia. Pesquisas indicam que, em casa, passam o mesmo tempo diante da TV e/ou do computador. Nada contra, exceto o risco de obesidade precoce. Mas como seria bom se TV a emitisse mais cultura e menos entretenimento e se na internet fossem acessados conteúdos mais educativos!

Os estudantes brasileiros leem 7,2 livros por ano, dos quais 5,5 são didáticos ou indicados pela Escola. Apenas 1,7 livro por escolha própria. E 46% dos estudantes não frequentam bibliotecas.

No Programa Internacional de Avaliação de alunos 2009 (Pisa), aplicado em 65 países, o Brasil ficou em 53º lugar. Na escala de 1 a 800 pontos, nosso país alcançou 401. No quesito leitura, 49% de nossos alunos mereceram nível 1 (1 equivale a conhecimento rudimentar e 6 ao mais complexo). Nível 1 também para 69% de nossos alunos em matemática e para 54% em ciências.

O Pisa é aplicado em alunos(as) de 15 anos. Nas provas de matemática e leitura, apenas 20 alunos (0,1%), dos 20 mil testados, alcançaram o nível 6 em leitura e matemática. Em ciências, nenhum. No conjunto, é em matemática que nossos alunos estão mais atrasados: 386 pontos (o máximo são 800). O Ministério da Educação apostava atingirem 395. Na leitura, nossos alunos fizeram 412 pontos, e em ciências, 405.

Estamos tão atrasados que o Plano Nacional de Educação prevê o Brasil alcançar, no Pisa, 477 pontos em 2021. Em 2009, a Lituânia alcançou 479; a Itália, 486; os EUA, 496; a Polônia, 501; o Japão, 529; e a China, campeã, 577.

Nos países mais desenvolvidos, 50% do tempo de instrução obrigatório aos alunos de 9 a 11 anos e 40% do tempo para os alunos de 12 a 14 anos é ocupado com ciências, matemática, literatura e redação. E, no ensino fundamental, não se admitem mais de 20alunos por classe.

Onde está o nosso tendão de aquiles? Na falta de investimentos – em qualificação de professores, plano de carreira, equipamentos nas Escolas (informática, laboratório, biblioteca, infra desportiva etc.).

Análise de 39 países, feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2010, revela que o investimento do Brasil em Educação corresponde a apenas 1/5 do que os países desenvolvidos desembolsam para o setor. EUA, Reino Unido, Japão, Áustria, Itália e Dinamarca investem US$ 94.589 (cerca de R$ 160 mil) por aluno no decorrer de todo o ciclo fundamental. O Brasil investe apenas US$ 19.516 (cerca de R$ 33 mil).

Embora a Organização Mundial do Comércio (OMC) tenha insinuado retirar a Educação da condição de dever do Estado e direito do cidadão e transformá-la em simples negócio – ao que o governo Lula se contrapôs decididamente –, os 5,2% do PIB que nosso país aplica naEducação são insuficientes. O que favorece a multiplicação de Escolas e universidades particulares de duvidosa qualidade. Entre os países mais ricos, derivam do poder público 90% do investimento em ensinos fundamental e médio.

Ainda convivemos com cerca de 14 milhões de analfabetos com 15 anos ou mais. Sem contar os analfabetos funcionais. Dos 135 milhões de eleitores em 2010, 27 milhões não sabiam ler nem escrever. Faltou ao governo Lula um plano eficiente de alfabetização de jovens e adultos.

Tomara que Dilma cumpra a promessa de criar 6 mil creches e o Ministério da Educação se convença de que alfabetização de jovens e adultos não se faz apenas com dedicados voluntários. É preciso magistério capacitado, qualificado e bem remunerado.

Todos gostariam que seus filhos tivessem ótimos professores. Mas quem sonha em ver o filho professor? Na Coreia do Sul, onde são tão bem remunerados quanto médicos e advogados, e socialmente prestigiados, todos conhecem o provérbio: “Jamais pise na sombra de um professor”.

* Frei Betto é escritor, autor de Alfabetto – Autobiografia Escolar (Ática), entre outros livros.
  www.freibetto.org – Twitter: @freibetto

Fonte: Estado de Minas (MG)

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